VICENTE VITORIANO

16/09/2011 22:21

ATUALIZANDO OS ASSUNTOS

(Publicado no jornal Diário de Natal, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, quinta-feira, 17 de setembro de 1998).

 

Bruno Steinbach

Nômades Amantes do Tempo”

Pinturas

CAPITANIA DAS ARTES

De 04 a 16 de setembro de 1998


Por que ficamos embevecidos com o erotismo de Bruno Steinbach? Hoje, quando a sexualidade e mesmo muita pornografia assola todos os meios de comunicação e esse tema passa a ser cotidiano , apelativo e até aborrecido, poderíamos descartar com simples olhadelas esse conjunto de pinturas que trata justamente de sexo, mais precisamente de atos heterosexuais. Mas, não.

DISCURSO

Ainda que Steinbach, dentro mesmo de sua mostra, repita e repita imagens. Aliás, pode-se dizer que nessas repetições o artista usa um discurso metalingüístico para “discutir” a invasão massiva da sensualidade no nosso dia a dia. Não nos dizendo “seja assim” ou “experimente isto”, como um publicitário, mas afirmando “estes somos nós”, como um humanista.

O ato sexual em sua universalidade é, todo modo, um tema que pode, inclusive por toda esta sua superexposição,ser apreendido por qualquer pessoa, “até por um motorista de ônibus”, como diz Steinbach. Ninguém pode fujir a uma identificação.O orgasmo, o prazer sensual é tratado em sua natural crueza, sem esteticismos, surrealismos ou quaisquer recursos de escamoteamento do tema, numa procura mesmo da comunicação direta, da revelação de que sexo é bom, é naturalmente belo.

O desenho preciso de Steinbach - desenho realista que nada tem a ver com um expressionismo tipo Munch, Schiele ou Van Gogh - resolve este propósito muito a contento, ainda mais porque ele sobejamente o finaliza com jogos rítmicos de vibrantes pinceladas.

Talvez fosse mais apropriado dizer que Steinbach lança mão do expressionismo abstrato - do tipo Pollock - ou do tachismo, dada a evidente velocidade com que apõe tinta ao suporte. Às vezes ele recorre a um típico dripping (gotejamento) expressionista, incômodo e quase sempre desnecessário. Mas estes recursos são funcionalmente retóricos ao induzir movimento, aspersão e derramamento de líquidos, absolutamente próprios ao tema.

CORES

Por outro lado, aproximar o “estilo” de Steinbach do impressionismo talvez continue impróprio, já que a cor - elemento primordial do impressionismo - é tratada por ele também segundo esquemas mais próximos do conteporâneo, mais dentro de uma linguagem Pop. A repetição de imagens, inclusive, seria outra característica Pop que o artista associa a estas suas escolhas pela monocromia ou por sutis arranjos analógicos de cor.

A tinta acrílica, seja sobre Duratex ou sobre cartão, é muito sabidamente utilizada por Steinbach, especialmente na exploração do tempo de cura e dos contrastes entre opacidade e transparência.

Como resultado, temos soluções muito pessoais informando sobre a consciência artesanal do artista, que nos brinda com obras realmente ricas em sua harmonia entre forma e conteúdo.

 

Natal, RioGrande do Norte, quinta-feira, 17 de setembro de 1998.